sábado, 15 de novembro de 2014

A epidemia da doença mental




Hoje discutiremos sobre as doenças mentais e qual a influência das indústrias farmacêuticas exercem sobre elas.

Para começar o assunto precisamos entender algumas coisas específicas. Existe atualmente um manual que é utilizado desde a década de 50 por diversos profissionais, esse é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), famoso DSM. A importância desse manual é clara, pois ele contém a classificação dos transtornos mentais, de acordo com a Associação Americana de Psiquiatria e é usado em todo o mundo para decidir quem tem uma doença mental e quem não tem.

A edição mais recente edição da “bíblia da psiquiatria”, o DSM 5, é cercado de polêmicas, e uma delas veio do Instituto Nacional de Saúde Mental (NHI), um dos principais órgãos norte-americanos, que decidiu excluir de financiamentos as pesquisas que se baseiam nas categorias do guia. Especialistas como Allan Frances — professor emérito Univesidad Durham, que dirigiu a penúltima edição, o DSM IV — dizem que os critérios de diagnósticos são “frouxos” e podem sofrer pressões de setores interessados.··.

Segundo Frances o DSM 5 (2013) é muito polêmico porque abriu as portas para a irresponsável abundância de diagnósticos e de venda de remédios. Para ele uma tristeza normal se tornou “transtorno depressivo maior”; um esquecimento da idade é “transtorno neurocognitivo leve”; birras usuais do temperamento infantil se tornam “transtorno disruptivo de desregulação do humor”; exagerar na comida virou “transtorno da compulsão alimentar periódica”; uma preocupação de um sintoma médico é “transtorno de sintoma somático”; e em breve todos terão “transtorno de déficit de atenção e hiperatividade” (TDAH) e tomarão estimulantes.

Mas o principal problema é que a indústria farmacêutica vende doenças e tenta convencer indivíduos de que precisam de remédios. Eles gastam bilhões de dólares em publicidade enganosa para vender doenças psiquiátricas e empurrar medicamentos.

Nos Estados Unidos e em outros países, as indústrias farmacêuticas fazem uma propaganda marqueteira sobre as doenças mentais tanto para médicos quanto para o povo, que induz a diagnósticos precipitados e prescrição de medicamentos talvez não necessários. Estas indústrias encorajam medicar as pessoas mais por causa de eventos da vida que produzem sintomas transitórios do que pela presença de doença em si. Por exemplo, uma pessoa com estresse no trabalho e que apresenta insônia temporária, irritação, ansiedade, se olhar algumas propagandas de laboratório, achará que ela necessita do medicamento anunciado para estes sintomas, quando a solução está na busca de harmonia no trabalho, ou mudança de emprego, redução da carga de serviço, delegar tarefas, férias, etc., mas não entrar de cara no uso de um psicotrópico!



Antidepressivos e antipsicóticos são drogas bem consolidadas como estratégia terapêutica (tão bem consolidadas que juntas renderam 34,4 bilhões de dólares em vendas no ano de 2004).

Por outro lado, entre 1994 e 2013, o FDA (Food and Drug Administration)2 liberou o uso de diversos novos fármacos para tratamento de transtornos do sono vigília e relacionados ao uso de substâncias (por exemplo, Antabuse; Naltrexone para tratamento de dependência de álcool; Brupropiona no tratamento para parar de fumar; Zopiclone; Zolpidem).

Obviamente, o intuito ao se lançar medicamentos novos no mercado é com que eles sejam consumidos e de fato retornem lucro à indústria, fazendo jus ao esforço despendido em seu desenvolvimento. Um dos problemas dessa premissa capitalista é que várias pesquisas científicas publicadas para demostrar a efetividade do medicamento são questionáveis por apresentarem resultados enviesados como não serem mencionados dados negativos e metodologia questionável, por exemplo, comparações inapropriadas com medicamentos.

Neste sentido é importante nos atentarmos para os interesses velados na construção de manuais. Modificar critérios diagnósticos das doenças pode acarretar o aumento na quantidade de pessoas diagnosticadas, inclusive, diagnósticos indevidos. Consequentemente, mais medicamentos são adquiridos e os lucros da indústria aumentam.

Do ponto de vista da indústria farmacêutica, para Frances “não há melhor cliente do que uma criança. Indústrias farmacêuticas não estão interessadas em desenvolver antibióticos em pessoas que só viverão dois ou três dias, mas vão fazer todo o possível para vender drogas para as crianças, porque eles serão os consumidores ao longo da vida . " Drogas que, em muitos casos, causam mais problemas do que resolvem. "Antipsicóticos fazer as crianças desenvolver sobrepeso", diz o psiquiatra.






Para finalizar, uma possível solução para problemática seria, talvez, limitar o poder da indústria farmacêutica e observar a necessidade de exercer um controle sobre as suas práticas, visto que essa possui um poder enorme sobre os políticos e uma grande riqueza para difundir informação enganosa. Também é importante atentar para a volta da prática do raciocínio lógico e humanizado, optando por psicoterapias ao invés do uso imediato de medicamentos e, talvez o ponto mais importante, a importância de frear o marketing e a publicidade farmacêutica – como foi feito com a indústria do tabaco - começando a fazer a propaganda inversa de que “ remédio demais é prejudicial à sua saúde, e mata!”


http://portrasmidiamundial.blogspot.com.br/2014/09/a-industria-farmaceutica-esta-causando.html


http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/a-perigosa-industria-das-doencas-mentais-14276925


http://www.aleteia.org/pt/saude/artigo/imaturidade-e-transtorno-mental-5841712870064128




7 comentários:

  1. O problema retratado no post necessita de grande seriedade e urgência para ser resolvido. Afinal, as indústrias farmacêuticas, na busca pelo lucro, estão influenciando excessivamente a classe médica, que passa a receitar indiscriminadamente remédios, prática prejudicial, como se pode perceber em: "O TDAH ocorre em 3% das crianças, mas é diagnosticado em 11% de americanos e, ridiculamente, em 20% de adolescentes homens. O remédio pode ser bom para poucos e terrível se usado em muitos.". Dessa forma, devemos lutar para que seja amplamente divulgado os efeitos nocivos do excesso de medicamentos, e para que seja revertida a atual medicalização da sociedade, onde qualquer problema comum se torna uma doença passível da necessidade de remédios.
    Fonte:http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/a-perigosa-industria-das-doencas-mentais-14276925

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  2. Especialistas e leigos vêm discutindo como as mudanças previstas na nova edição manual, elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria, poderão impactar o diagnóstico de doenças mentais, em um momento em que, segundo estudo da Universidade de Harvard, quase metade dos americanos adultos em algum momento da vida sofrem de algum transtorno mental. Segundo seus críticos, o novo manual amplia ainda mais o número de doenças mentais, além de aumentar as chances de alguém ser diagnosticado com os transtornos já existentes, reduzindo o número de sintomas necessários para que um paciente se encaixe em determinado diagnóstico. Com isso, cresceria o número de pessoas tratadas com medicamentos para transtornos mentais - e, consequentemente, o mercado para a indústria farmacêutica.Uma das principais críticas é a de que o DSM-5 estaria transformando em doenças comportamentos até agora considerados comuns, como o sofrimento após a perda de alguém próximo (a partir de agora, o luto que durar mais de duas semanas será considerado sintoma de depressão), colocando em discussão a fronteira entre o que é considerado "normal" e o que pode ser definido como doença mental, o que mostra que claramente a intenção da indústria farmacêutica de sobrepor seus interesses econômicos acima do bem-estar da sociedade.
    Referência: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/05/130515_manual_psiquiatria_ny_fl

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  3. Sabe-se que, principalmente no Brasil, a automedicação é uma realidade, mais que isso, trata-se de um problema de saúde pública. Sem dúvida, a propaganda e o marketing contribuem bastante para o aumento constante dessas vendas. A venda de medicamentos é impulsionada pelas propagandas televisivas – principalmente dos medicamentos que não necessitam de prescrição. As mensagens contidas nessas propagandas sempre fazem com que as pessoas se “vejam”, se “identifiquem” com o que é veiculado, levando assim cada vez mais ao aumento do consumo, muitas vezes desnecessário ou exagerado. A indústria farmacêutica possui um lucro aproximado de 40% sobre seus produtos. Desse lucro, 35% são investidos em propaganda e publicidade, e apenas 5% são reinvestidos em pesquisas e desenvolvimento de novos produtos. A partir desses dados, pode-se ter uma noção de como a propaganda é importante para a indústria farmacêutica e influencia nos hábitos de consumo da população. Por isso, é importante que sempre antes de tomar algum medicamento, você vá ao médico, para evitar assim futuros problemas de saúde.

    http://indfarmufabc.wordpress.com/

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  4. A postagem foi muito interessante na medida em que abordou o tema da relação entre as doenças mentais e a indústria farmacêutica, e o modo como esta última usa-se das mesmas para o lucro. A personalidade citada no texto, Allen Frances (Nova York, 1942), dirigiu durante anos o Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM), documento norte-americano que define e descreve as diferentes doenças mentais. Esse manual, considerado a bíblia dos psiquiatras, é revisado periodicamente para ser adaptado aos avanços do conhecimento científico. Frances dirigiu a equipe que redigiu o DSM IV, ao qual se seguiu uma quinta revisão que ampliou enormemente o número de transtornos patológicos. Em seu livro Saving Normal (inédito no Brasil), ele faz uma autocrítica e questiona o fato de a principal referência acadêmica da psiquiatria contribuir para a crescente medicalização da vida, na medida em que adiciona muitas patologias muitas vezes inexistentes e que acabariam por enquadrar muitas pessoas em síndromes, somente pela administração do remédio e lucro, o que provocaria um grave problema de saúde pública, como o autor deixa claro em seu comentário: “Há seis anos, encontrei amigos e colegas que tinham participado da última revisão e os vi tão entusiasmados que não pude senão recorrer à ironia: vocês ampliaram tanto a lista de patologias, eu disse a eles, que eu mesmo me reconheço em muitos desses transtornos. Com frequência me esqueço das coisas, de modo que certamente tenho uma demência em estágio preliminar; de vez em quando como muito, então provavelmente tenho a síndrome do comedor compulsivo; e, como quando minha mulher morreu a tristeza durou mais de uma semana e ainda me dói, devo ter caído em uma depressão. É absurdo. Criamos um sistema de diagnóstico que transforma problemas cotidianos e normais da vida em transtornos mentais”. Segundo ele ainda, os medicamentos seriam aconselhados apenas para tratar doenças mais severas e persistentes, ao passo que só piorariam a situação no que diz respeito a problemas do cotidiano e mal-estar. Faz-se necessária, portanto, uma maior intervenção governamental na medida de controlar ainda mais a fabricação e venda em território brasileiro, destes medicamentos, a fim de controlar a medicamentalização, e diminuir os problemas de saúde que dela poderiam decorrer. Aguardo novas postagens.

    Fonte:
    http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/somos-todos-doentes-mentais/

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  5. O assunto abordado no post é bastante polêmico e atrai muitas críticas. O limite entre a normalidade e a doença foi alterado de forma a beneficiar os fármacos, destacando-se a "epidemia" nos diagnósticos de déficit de atenção. Sobressai-se o uso dos psicotrópicos na psiquiatria, que agem diretamente no sistema nervoso central e induzem alterações comportamentais ou humorais.

    Os psicotrópicos foram desenvolvidos pelas indústrias farmacêuticas para fins terapêuticos de estabilização do SNC, ou seja, quando o paciente está ansiosonormalmente os médicos psiquiatras prescrevem ansiolíticos, tais medicamentos tem efeito depressor do SNC agindo de forma a deixar o paciente menos agitados. O contrário se dá aos medicamentos antidepressivos que estimulam o SNC. Hoje em dia são encontrados psicotrópicos híbridos que tem primeiro uma das ações desejadas e depois de algumas horas perde a primeira ação dando início à segunda ação, por exemplo: pela manhã tem ação antidepressiva, no início da noite ação ansiolítica.

    Existem psicotrópicos que causam dependência, como os benzodiazepínicos, quando utilizados de forma exagerada, e por conta do paciente que muitas das vezes procura três, quatro ou mais médicos em busca de receitas de controle especial B, a receita “azul”. Esses indivíduos correm sério risco de morte, pois o excesso pode causar parada cardiorrespiratória no caso dos ansiolíticos, e infarto no coração, cérebro ou outros órgãos com carga superelevada de antidepressivos.
    FONTE
    http://www.ctcantareira.com.br/substancias/o-que-sao-psicotropicos.html

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  6. A ideia das indústrias farmacêuticas é desinformar as pessoas e convencê-las de que o remédio resolve todos os problemas. Parece brincadeira, mas as pessoas usam medicamento para dormi, para acordar, para sorrir, para perder peso, para ganhar peso, etc. Os pacientes vão para as consultas médicas já com o nome da especialidade que precisam, os nomes dos exames que querem fazer, e por aí vai. E a indústria farmacêutica tem uma parcela nesse processo. A indústria transmite a farsa de que médico bom é aquele que sempre prescreve algum remédio, associado a vários exames.

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  7. É óbvio que a indústria farmacêutica é de grande utilidade para a sociedade, pois através de suas pesquisas fornece os medicamentos necessários para a cura de diversas moléstias que assolam a população mundial diariamente. Mas, quando percebe-se que o grande interesse dessa indústria, assim como de todas as outras, é o lucro, vê-se diversos prejuízos causados à sociedade apenas na busca pelo dinheiro. A postagem nos mostra mais um aspecto dessa busca. Hoje existe uma banalização das doenças mentais, incentivada pelas grandes empresas de medicamentos. Cada vez mais as pessoas são levadas a acreditar que estão sofrendo de doenças mentais e que existe necessidade de ingestão de drogas, mesmo quando estão passando por problemas temporários e, muitas vezes, não relacionados a doenças mentais e, sim, a motivos alternativos, como outras doenças ou fase ruim na vida. É clara a necessidade de maior controle da influência da indústria no diagnóstico desse tipo de moléstia. Também é preciso senso crítico por parte do médico, para que não acredite em tudo que lhe é mostrado, mesmo quando é uma referência no assunto, como no caso do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

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