A indústria farmacêutica lança no mercado
mundial uma centena de novos produtos por ano, mas a pergunta é: realmente eles
são novos? Em geral são novas drogas, só que baseadas em protótipos moleculares
que conferem o mesmo efeito terapêutico no final das contas. Tomaremos como
exemplo a classe dos inibidores das bombas de prótons (IBP) utilizados pros
tratamentos de doenças relacionadas à hipersecreção de ácidos no estômago.
Temos como protótipo o Omeprazol, que é a droga constante na Relação Nacional
de Medicamentos (RENAME) do Governo Federal e distribuído pelo SUS. Porém temos
no mercado várias drogas semelhantes como Esomeprazol, Pantoprazol e
Lanzoprazol que nós chamamos de me-too drugs ou numa tradução direta “Drogas Eu
Também”.
Os
me-toos são uma estratégia de mercado das grandes indústrias de faturarem
dinheiro em cima de drogas já conhecidas e que não conferem ganhos terapêuticos
em relação às drogas usualmente conhecidas, pelo contrário, essas drogas são um
tiro no escuro, já que por serem novas não têm seus efeitos adversos muito bem
esclarecidos (Vale lembrar o caso do Vioxx® retirado do mercado em 2005 por
causar danos cardíacos e neurológicos, falaremos sobre outras drogas que
causaram danos em posts posteriores).
Nos
EUA a Food and Drug Administration (FDA) é a responsável pelo registro de novos
medicamentos. Lá basta o medicamento ter sido aprovado em um estudo de fase III
sendo comparado com placebo (comprimidos de açúcar). Os estudos de fase III
geralmente ocorrem numa faixa de 100 a 1000 voluntários e eles precedem os
estudos de fase IV que é onde a população aumenta de forma significativa. Para
poupar os custos destes estudos, os laboratórios, já de posse do registro
sanitário, disseminam o uso dessa nova droga e com isso faz de cobaias os
pacientes que na maioria das vezes pagam caro por esse medicamento, enquanto o
protótipo muitas vezes pode ser obtido de forma gratuita através do SUS.
Os
gastos da indústria são duas vezes maior com propaganda do que a pesquisa. Está
comprovado que menos de 10% dos novos medicamentos que chegam ao mercado
possuem avanços terapêuticos. Estes medicamentos inovadores geralmente são
fruto de pesquisas feitas em universidades, sem a interferência da indústria
farmacêutica. Há de se ressaltar que boa parte das novas drogas que chegam ao
mercado são destinadas a patologias da vida moderna, como já foi citado outras
vezes aqui (Hipertensão, Diabetes, Insônia, Hipercolesterolemia) e que há um
mercado garantido pra venda destes produtos.
Um
medicamento de informação e formulado para substituir outro cuja patente tem
prazo de validade em vias de expirar, tendo o medicamento de imitação
(protegido por patente), qualidade igual, ou muitas vezes inferior a do
medicamento imitado. Do ponto de vista da sociedade, é obviamente um desperdício
o gasto de recursos com pesquisas visando medicamentos de imitação.
Nos
cinco anos de 1998 a 2002, 415 novos medicamentos foram aprovados pela FDA (Food
and Drug Administraction), das quais apenas 14% eram verdadeiramente novos. Outros
9% eram medicamentos antigos melhorados e aperfeiçoados significativamente, de
acordo com a FDA e os restantes 77% eram incrivelmente todos remédios de
imitação- classificados pela FDA como não melhores que os medicamentos já no
mercado para tratar os problemas de saúde, alguns tinham composição diferente
dos demais, oiros não. Mas nenhum foi considerado avanço.
Para
finalizar segue abaixo alguns exemplos de drogas me-too:
-
Prilosec, remédio da Astra Zeneca para azia, rendia 6 bi por ano. Patentes em
vias de expirar em 2001. Nova droga, Nexium. Campanha publicitária intensa, de
1,2 bi de dólares.
- Claritin, da
Shering-Plough, antialérgico. Venda
de 2,7 bi de dólares. Patente extinguindo em fins de 2002. Calrinex, lançado
com metabólito de Claritin.
-
Talvez a família mais conhecida dos medicamentos de imitação são as estatinas,
para baixar os níveis de colesterol. Original Mevacor, da Merck, 1987. Ultima Crestor,
da Astra-Zeneca. Também da Merck, Zocor. Liptor da Pzizer; Pavachol da Bristol-Myers
Squibb e Lescol da Novartis.
-
Prozac, Eli Lily, 1987. Paxil da Glaxo- Smith- Kline em 1997. Celexa, Forest
Laboratories, entre outros.
As drogas me too estão ai para mostrar que a liberdade de escolha do profissional de saúde desinformado cientificamente está completamente abalada, o que abala consequentemente a saúde de seus pacientes. Sem contar àqueles que fazem escolhas baseando-se em interesses secundários( financeiros). Logo, estaremos a mercê de interesses que superam nossa saúde. Desde os das indústrias de fazerem suas ações lucrarem ao dos médicos que desejam um dinheirinho a mais no final do mês sendo altamente influenciados por representantes. A ANVISA regulamenta a ação das grandes indústrias farmacêuticas e de seus representantes de várias maneiras. Isto nos leva a pensar que este ramo está livre de influências que visam beneficiar financeiramente os que participam do “jogo” de vendas de remédio. Dentre as ações que ANVISA regulamenta, podemos citar: Não pode se distribuir brindes que possuem o nome do fármaco ou de seu principio ativo, apenas o nome da empresa. Não se pode sortear, oferecer produtos “extras” que não possuam valor cientifico em congressos de divulgação de remédios. A entrada de cidadãos comuns é proibida nos congressos de divulgação. A entrada de médicos é regulamentada por crachás com o número do CRM. A distribuição de amostra grátis só pode ser feita dois anos após o registro e liberação do medicamento pela ANVISA. Patrocínios devem ser expostos publicamente para que não haja oferecimento de certas “vantagens”. Todo profissional médico, palestrante ou representante que tenha recebido algum tipo de apoio financeiro deve informar aos organizadores do congresso.
ResponderExcluirA inserçao desse tipo de droga no mercado nao é novidade, por isso é importante que o medico, que é o responsavel pelas prescricao esteja sempre atualizado sobre aqs novas drogas, pois nem sempre elas sao superiores do ponto de vista terapeutico e assim nao é vantajoso prescreve-las sabendo que trara um onus grande na condicao financeira do paciente, deve-se pensar se o paciente vai ter realmente condicao de manter o tratamento, se nao for é preferivel usar a droga mais antigas mas com melhor preco. Nao podemos cair na armadilha de pensar que o que é novo é melhor em todos os aspectos
ResponderExcluirAlém da baixa capacidade de criação de medicamentos inovadores, a indústria farmacêutica foca na disseminação de imitações de eficiência mal estudada. Uma bela estratégia já que há lucro e emprego de cobaias simultâneo.
ResponderExcluirMarcia Angell, pesquisadora do Departamento de Medicina Social da Harvard Medical School, em seu famoso livro – A verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos – nos traça alguns caminhos para a reformulação das práticas farmacêuticas, como a proibição de laboratórios controlarem os ensaios clínicos de seus próprios medicamentos, e a obrigatoriedade de equilíbrio de investimento entre a formulação de me-too e a busca por moléculas inovadoras. Caminhos estes que podem nos levar a diminuir o elo entre a dinâmica medicamentosa e a visão do fármaco restrita ao produto encapsulado.
FONTE
http://cemedmg.wordpress.com/tag/medicamentos-me-too/
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA postagem foi muito interessante na medida em que tratou sobre os medicamentos “me-too”, expondo mais uma vez, o modo, como diz o texto, “agressivo”, de ação da indústria farmacêutica, que visa muito mais o lucro, e para isso, abusa da população, de forma a vender medicamentos, com os mesmos efeitos e princípios, como novos, ou vendendo produtos sem os devidos testes de segurança, acarretando problemas à população como o caso do vioxx®, citado no texto, que foi retirado do mercado em 2005 por causar danos cardíacos e neurológicos, exemplificando como os medicamentos podem ser tornar um grande problema à saúde pública. Baseados na modificação estrutural de fármacos conhecidos, os medicamentos “me-too” são considerados por alguns críticos como uma “falsa inovação”. Enquanto análogos estruturais, são vistos como uma estratégia inteligente para mascarar a escassez de NEM. Consequentemente, um mercado saturado de novas drogas é criado, com pouca pesquisa clínica para sua formulação, e muitas vezes sem uma vantagem terapêutica significativa em relação às já existentes, e que mesmo assim, são vendidas à população (através dos médicos), por preços, que muitas vezes se mostram exorbitantes. Diante de tudo isso, faz-se necessária uma maior intervenção governamental sobre os remédios, punição de infrações e de empresas que produzam medicamentos que não tenham passado por um processo adequado de teste e etc... Felizmente, neste quesito de controle governamental sobre as indústrias farmacêuticas, muita coisa já foi feita, principalmente pela ANVISA, como: a proibição da distribuição de brindes que possuem o nome do fármaco ou de seu principio ativo, (é permitido apenas o nome da empresa), do sorteio ou oferecimento de produtos “extras” que não possuam valor cientifico em congressos de divulgação de remédios, a entrada de cidadãos comuns nos congressos de divulgação, dentre outras medidas. Aguardo novas postagens sobre o assunto.
ResponderExcluirFonte:
Http://cemedmg.wordpress.com/tag/medicamentos-me-too/
Http://biometoo.blogspot.com.br/
O post reitera o compromisso das indústrias farmacêuticas com o lucro, de modo que para alcançar seu objetivo elas utilizam todos os meios possíveis, e aí se encaixam as drogas me too. Decepciona saber que a maior parcela de remédios novos são remédios de imitação, quando existem diversas doenças sem tratamento esperando pesquisas na área. Assim, cabe ao médico a responsabilidade de receitar apenas medicamentos confiáveis ao seu paciente, sem se deixar levar pela propaganda de indústrias farmacêuticas de remédios me too, que muitas vezes não têm seus efeitos colaterais avaliados adequadamente e que podem causar sérios danos às pessoas a longo prazo.
ResponderExcluirA indústria farmacêutica realmente visa apenas o lucro, em detrimento da saúde da população. As drogas me too são apenas mais um exemplo disso, como percebemos no texto. São drogas que não aumentam a saúde do paciente ou a sua qualidade de vida, pois são iguais a outras já existentes. Isso demonstra o interesse apenas no dinheiro faturado e o desinteresse pela inovação e melhora dos efeitos curativos dos medicamentos. Os números a respeito das novas drogas lançadas são alarmantes, mostrando que menos de 10% delas tem inovações, além de serem dstinadas em sua maioria para doenças mais lucrativas, como a diabetes, a hipertensão, entre outras. Percebido o descaso da indústria farmacêutica com a saúde e o aperfeiçoamento dos medicamentos, é necessária noção crítica dos médicos, para que os mesmos não aceitem propagar as drogas me too, para que haja desencorajamento desse tipo de atitude por parte da indústria.
ResponderExcluirFica muito complicado quando tudo segue uma lógica de mercado, onde as pessoas de fato ficam sempre em segundo plano. Essas empresas laçam "novos" medicamentos como se lançassem um produto "da moda" e "atualizado", somente para estimular a venda do que antes já vendia tanto. E os problemas continuam. Entretanto, o médico poderia também fazer a sua parte, e agir com honestidade para com o seu paciente que, às vezes, toma emprestado dinheiro para adquirir um remédio quatro vezes mais caro do outro que produz a mesma resposta. Aconteceu comigo, usava um colírio 50% mais caro porque o médico não foi honesto comigo.
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