sábado, 6 de dezembro de 2014

"Currais" lucrativos


A indústria multinacional farmacêutica gasta quase 40 bilhões de dólares por ano para desenvolver novos medicamentos. Para isso, mobiliza uma crescente parcela dos cientistas mais experientes do mundo e a mais sofisticada tecnologia médica. Com tal investimento maciço poderia se esperar um aumento do número de medicamentos de impacto dirigidos para os flagelados da humanidade. A indústria farmacêutica não desprezou as partes do mundo assoladas por doenças como a malária. Pelo contrário: nunca antes os fabricantes de remédios deram tanta atenção aos pobres do mundo. Os grandes laboratórios estão realizando milhares de ensaios clínicos nos países em desenvolvimento — Bulgária, Zâmbia, Brasil e Índia, por exemplo. 

Recentemente, a Pfizer, a Glaxosmithline (GSK) e a Astrazeneca instalaram centros globais de testes clínicos na Índia. Ano passado, a GSK realizou mais da metade dos seus testes de drogas novas fora dos mercados ocidentais, escolhendo em particular países de “baixo custo” para os testes “deslocalizados”. As empresas não estão lá para curar os males dos doentes pobres que fazem fila em suas reluzentes clínicas de pesquisa. Os fabricantes de drogas foram aos países em desenvolvimento para fazer experimentos com as multidões de doentes miseráveis. Utilizam-se deles para produzir os remédios destinados às pessoas cada vez mais saudáveis em outros lugares, em particular ocidentais ricos que sofrem os desgastes da idade, como doenças cardíacas, artrite, hipertensão e osteoporose. Essa tendência — desenvolver drogas para os ricos globais testando-as nos pobres globais — além de não ser um investimento de recursos científicos preciosos, ameaça os direitos humanos e a saúde pública global.

Os Estados Unidos são o maior mercado de remédios do mundo. O norte-americano médio leva para casa dez receitas médicas por ano. Desde 2000, a indústria farmacêutica cresceu 15% por ano, triplicando o lançamento de drogas experimentais entre 1970 e 1990.


O problema é que quanto mais apreciam remédios, menos pessoas estão dispostas a se inscrever nos testes clínicos exigidos para desenvolver os novos. Cada droga nova exige cerca de quatro mil voluntários para os testes clínicos, o que por sua vez significa que 100 mil pessoas têm de ser atraídas para os ensaios iniciais. Por que tantos? Porque não é fácil desenvolver novos remédios para doenças do coração, artrite, hipertensão e outras condições crônicas não contagiosas.

Apesar do máximo esforço da indústria, a maioria das novas drogas destinadas a tratar dessas doenças tem eficácia apenas marginal. Algumas são similares a uma pílula de placebo. “Você sempre tem que batalhar para encontrar uma diferença” entre os pacientes tratados e não-tratados, diz um pesquisador clínico veterano.

A necessidade da indústria encontrar voluntários para experimentos é imensa. Entretanto, pouco mais de um em vinte norte-americanos estão dispostos a participar de testes clínicos. A razão é óbvia. Por que se expor a compostos experimentais, não testados, quando o leque de alternativas comprovadas está ao alcance das mãos? O único problema com os testes de placebo é que exigem um número suficiente de pessoas que queiram participar de um experimento em que podem não receber tratamento algum – uma tarefa cada vez mais impossível, especialmente no Ocidente mergulhado em remédios.

Atualmente, além de malária e tuberculose, as pessoas dos países em desenvolvimento sofrem das doenças nas quais os fabricantes de drogas dos mercados ocidentais estão mais interessados. De acordo com a OMS, 80% das mortes por doenças crônicas não contagiosas, como males cardíacos e diabetes, agora ocorrem nos países em desenvolvimento. Há mais diabetes tipo II na Índia do que em qualquer outro lugar do mundo. Em alguns lugares da África, uma em cada cinco pessoas sofre de diabetes e 20 milhões de africanos padecem de hipertensão. 

De acordo com a OMS, as implicações desse fenômeno para a saúde pública “são inquietantes e já estão aparecendo”. Por serem pobres e sofrerem incômodos de saúde mais prementes, poucos pacientes são tratados. Inevitavelmente, sofrem mais complicações do que os pacientes bem tratados do Ocidente. Isto oferece uma oportunidade para os testes industriais. Para provar que um remédio para o coração funciona, por exemplo, é preciso mostrar que quem não toma esse remédio sofre mais “eventos” — sejam ataques cardíacos ou mortes — do que quem toma o remédio. Os testes nos países pobres podem completar-se muito mais depressa. Como observou um executivo de uma companhia de testes clínicos, durante uma conferência sobre a adequação dos países pobres para testes clínicos: “se não houver eventos suficientes, você nunca vai terminar seu teste”.


Outro executivo de companhia de testes clínicos afirmou: “A África do Sul é um país ótimo [para AIDS]”, por causa do grande número de pacientes infectados pelo HIV ainda não tratados com drogas anti-virais. Com freqüência os fabricantes de drogas ficam frustrados em suas tentativas de provar que as novas drogas funcionam nos corpos impregnados de medicamentos dos ocidentais testados.

A supervisão européia e norte-americana destes testes é mínima. Quando um fabricante de drogas decide lançar uma experiência clínica nos Estados Unidos ou na Europa, primeiro precisa alertar as autoridades reguladoras e enviar todos os dados pré-clínicos – dados de laboratório e de testes com animais, junto com planos detalhados de como planeja usar a droga experimentalmente em seres humanos. Dados de testes no exterior são aceitos pelas autoridades reguladoras norte-americanas e européias, mas nenhuma exige que os fabricantes de drogas alerte-as antes de iniciarem os experimentos no exterior. 

Sem descrição em parte alguma, os testes que fracassam nos países pobres simplesmente desaparecem sem deixar traços.


http://www.oarquivo.com.br/oarquivo-verdades-incovenientes/2378-a-face-oculta-da-industria-farmaceutica-parte-1

sábado, 29 de novembro de 2014

O poder da indústria farmacêutica e nossa saúde em risco



Hoje será tratado um tema que causa bastante polêmica e, por que não dizer, medo. Muitos medicamentos que tem suas patentes autorizadas são lançados no mercado sem serem feitos os testes necessários que comprovem que sua eficácia superam seus efeitos colaterais. No decorrer do texto vocês verão alguns exemplos de drogas que tinham efeitos terríveis, mas que permaneceram no mercado durante algum tempo. E fica uma pergunta, será que estamos livres desses medicamentos que fazem tão mal?

Quando um medicamento causa efeitos colaterais, esta informação muitas vezes não é exposta durante anos, o que permite à indústria farmacêutica continuar ganhando muito dinheiro.

O Food and Drug Administration (FDA) [órgão governamental dos EUA para alimentos e medicamentos] e a indústria farmacêutica argumentam que os efeitos colaterais perigosos em uma droga só aparecem quando é usada por milhões de pessoas – e não no grupo relativamente pequeno de pessoas que fazem testes clínicos. Mas existe outra razão pela qual os consumidores acabam sendo cobaias. Os remédios são levados apressadamente ao mercado, após um período muito curto (de apenas seis meses) para que a indústria possa começar a ganhar dinheiro, enquanto a segurança ainda está sendo determinada.

Tanto a droga para os ossos Fosamax, repleta de riscos, quanto a analgésica Vioxx, ambas da indústria Merck, foram ao mercado após seis meses de revisão. No caso da Vioxx, isso ocorreu porque “o medicamento potencialmente provia uma vantagem terapêutica sinificativa sobre outras drogas já aprovadas”, disse a FDA.

Nesse sentido, o ano de 2004, quando foram divulgados os resultados de um estudo sobre o uso do medicamento Vioxx na prevenção de recorrência de pólipos pré-cancerosos do intestino, foi bastante ilustrativo. Comandado pelo próprio fabricante, o grupo farmacêutico Merck & Co., a pesquisa mostrou que o analgésico dobrava os riscos de acidente cardíaco depois de pelo menos 18 meses de tratamento. Pesquisa realizada no final daquele ano apontou que quase metade (48%) dos adultos nos Estados Unidos e mais de três quartos (78%) dos usuários de Vioxx estavam seguindo de perto a cobertura da imprensa sobre a retirada voluntária do medicamento do mercado (THE WALL STREET JOURNAL, 2004). A notícia, além de abalar a reputação da indústria farmacêutica, da agência norteamericana Food and Drug Administration e de deixar órfãos do medicamento milhares de pacientes, mudou, ao menos momentaneamente, os rumos do jornalismo científico em saúde: os jornalistas passaram a questionar a ética dos fabricantes de medicamentos e das pesquisas acadêmicas (KRUMHOLZ, 2007), assim como o hábito da “consumização da saúde”. No ano seguinte, a polêmica envolvendo o medicamento pautou uma série de matérias na imprensa em relação a esses aspectos.



Abaixo, algumas drogas cujos riscos não impediram que seus fabricantes fossem autorizados a colocá-las a venda e exercer seu “valor de patente”.

1. Singulair

Você imaginaria que a Merck aprendesse, após os problemas com Vioxx e a Fosamax, que marketing agressivo pode esconder apenas por algum tempo os riscos emergentes das drogas. Mas não. Para vender o Singulair, sua droga contra asma e alergias para crianças, a indústria fez uma parceria com Peter Vanderkaay, o nadador medalha de ouro nas Olimpíadas, com acadêmicos e com a Academia Norte-americana de Pediatras – mesmo após a FDA advetir sobre os “eventos neuropsiquiátricos” do medicamento, incluindo agitação, agressão, pesadelos, depressão, insônia e pensamentos suicidas.

Enquanto a Merck fazia a propaganda do Singulair (que vem em fórmula mastigável e com gosto de cereja), com slogans como “Singulair é feito pensando nas crianças”, a Fox TV e mais de 200 pais relataram, no site askapatient que suas crianças, ao tomar o remédio, exibiam humor alterado, depressão e déficit de atenção (ADHD), hiperquinesia e sintomas suicidas. Cody Miller, um garoto de 15 anos de Queensbury, Nova York, tirou sua própria vida dias após tomar o medicamento, em 2008. Ainda assim, o Singulair arrecadou 5 bilhões de dólares para a empresa, em 2010. Após sua patente expirar, em 2012, a Administração de Bens Terapêuticos da Austrália (equivalente à FDA ou à Anvisa) reportou 58 casos de eventos psiquiátricos adversos em crianças e adolescentes, primariamente pensamentos suicidas. Quem sabia?

2. Zyprexa

Como vender uma droga que provoca ganho de peso de cerca de 10kg, em 30% dos pacientes, chegando até 45kg, em alguns? Enterrando seus riscos. O antipsicóticoZyprexa era a nova aposta da Eli Lilly, depois de seu antidepressivo campeão de vendas Prozac – mesmo que o laboratório soubesse, já em 1995, de acordo com o New York Times, que a droga está ligada a um ganho de peso incontrolável e até diabetes. Os efeitos colaterais do Zyprexa de “ganho de peso e possível hiperglicemia fazem um grande mal ao sucesso de longo prazo desta molécula criticamente importante”, havia escrito Alan Breier, da Lilly, segundo documentos obetidos pelo jornal. Mais tarde Alan tornou-se médico-chefe da empresa.

Mesmo após a Lilly ter pagado multas, após acusada de ocultar informações sobre a relação entre a droga e altos níveis de açúcar no sangue ou diabetes (e de ter comercializado ilegalmente a droga para pacientes com demência), o Zyprexa rendeu 5 bilhões de dólares em 2010, acima até do Prozac.

3. Seroquel

O antipsicótico Seroquel, produzido pelo laboratório AstraZeneca, do Reino Unido, tornou-se um dos medicamentos mais vendidos nos EUA, arrecadando mais de 5 bilhões de dólares em 2010, apesar de seus riscos, frequentemente relatados. O remédio foi comercializado tão vastamente para crianças pobres que, em 2007, o Departamento de Justiça para a Juventude da Florida comprou duas vezes mais Seroquel que Advil. Sua elevada aquisição no serviço militar, para usos não aprovados — como para estumular o sono e para distúrbio de estresse pós-traumático (PTSD) — também foi espantosa. Relatos de mortes repentinas de veteranos que utilizavam a droga emergiram quando as compras do Seroquel pelo Departamento de Defesa dos EUA cresceram 700%.

Poucos meses após a aprovação da Seroquel, em 1997, um artigo no Jornal de Medicina de Dakota do Sul já levantava questões sobre a interação perigosa da droga com outros onze medicamentos. Passados três anos, pesquisadores da Cleveland Clinic questionavam o efeito da Seroquel na atividade elétrica do coração. Mas mesmo quando as famílias de veteranos falecidos prestaram testemunhos em audiências no FDA, em 2009, e exigiram respostas de dirigentes e legisladores, o órgão protegeu a empresa. Depois, em 2011, com pouco alarde, o FDA emitiu novos avisos que confirmavam as notícias devastadoras: tanto o Seroquel quanto sua versão estendida, que fora lançada, “deveriam ser evitados” na combinação com pelo menos outros 12 remédios. A droga também deveria ser evitada pelos idosos e pessoas com doenças cardíacas, por causa de seus claros riscos ao coração.



4. Levaquin

Os antibióticos à base de fluoroquinolona estão entre os mais vendidos. O Levaquin, da Johnson & Johnson, igualmente baseado em fluoroquinolona, foi o antibiótico mais ventido nos EUA em 2010, com receitas acima de US$1 bilhão por ano — mas agora é tema de milhares de processos. Em 2012, um ano após a patente do Levaquin expirar, uma enxurrada de efeitos colaterais começou a emergir, sobre este medicamento e toda a classe de fluoroquinolonas, lançando dúvidas sobre sua segurança. A revista da Associação Médica Norte-Americana relatou que, de 4.384 pacientes diagnosticados com descolamento de retina, 445 (10%) foram expostos a fluoroquinolone no ano anterior ao diagnóstico. A Revista de Medicina da Nova Inglaterra relatou no mesmo ano que o Levaquin estava ligado a um risco crescente de morte cardiovascular, especialmente morte súbita por distúrbios no ritmo cardíaco.

Embora a FDA tenha alertado sobre as rupturas de tendão — especialmente os tendões de Aquiles — provocadas por fluoroquinolonas em 2008, e adicionado uma tarja preta de advertência na embalagem, novos avisos graves foram feitos dois anos após o fim da patente do Levaquin. Em 2013, a FDA advertiu sobre o “efeito colateral sério de neuropatia periférica” — um tipo de dano nos nervos no qual as vias sensoriais são prejudicadas — nas fluoroquinolonas. Neuropatias periféricas causadas por esta classe de antibióticos podem “ocorrer logo após a administração destas drogas, e podem ser permanentes”, alertou a ageência. Fluoroquinolonas também estão ligadas ao Clostridiumdifficile, também chamado de C. Diff, um micróbio intestinal sério e potencialmente mortífero.

5. Topamax

Antes de sua patente expirar, em 2009, a droga Topamax deu à Johnson & Johnson um bilhão de dólares por ano, e foram mais US$ 538 milhões depois disso. Um ano antes de cair a patente do Topamax, a FDA alertou que ela e outras drogas estão correlacionadas com suicídios, e pediu a seus fabricantes para adicionar avisos na caixa. Quatro pacientes usuários da droga mataram-se, contra nenhum sob placebo, declarou a FDA após rever os testes clínicos. Já em 2011, o órgão anunciou que o Topamax pode causar defeitos de nascimento nos lábios, nos bebês de mães que ingerem a droga.

6. Oxycontin

O Oxycontin, do laboratório Purdue Pharma, é a avó de drogas que geram muito dinheiro, apesar de seus efeitos colaterais letais. Junto de outros opióides, ele causou o número assutador de 17 mil mortes no ano passado — quatro vezes mais que em 2003. “O aumento [no uso] foi alimentado em parte por médicos e organizações de defesa de analgésicos, que recebiam dinheiro de empresas e faziam alegações enganosas sobre a segurança e a efetividade de opióides — inclusive afirmando que o vício é raro”, relatou o Journal Sentinel. A Sociedade de Geriatras Norte-Americanos usou pesquisadores ligados à indústria farmacêutica para reescrever guias clínicos em 2009, diz a publicação. Após reescritos, eles especificavam opióides para todos os pacientes com dor moderada a severa.

Devido a sua fórmula, que lhe permite agir por um longo período, pensou-se que o Oxycontin teria toxidade e potencial de provocar dependência reduzidos – ao menos até seus efeitos tornarem-no mais popular que a cocaína nas ruas (todos os 80mg de pílulas podíam ser tomados de uma vez). Em 2010, respondendo aos vícios, overdoses e mortes associadas à droga, a Purdue Pharma desenvolvou um Oxycontin inviolável, e, dois anos depois, passou a pressionar por leis que exigissem inviolabilidade de todos os opiácios. A empresa garantiu que sua maior preocupação era a saúde pública, mas muitos se perguntaram sobre o porquê desta preocupação só se revelar às vésperas do fim da patente da droga, em 2013.

http://outraspalavras.net/posts/industria-farmaceutica-mentiras-e-muito-dinheiro/


http://qga.com.br/ciencia/medicina/2014/04/o-poder-da-industria-farmaceutica-e-nossa-saude-em-risco

domingo, 23 de novembro de 2014

Curar não é lucrativo

Hoje falaremos sobre como a indústria farmacêutica não estimula a pesquisa de remédios que levam à cura, usaremos como exemplo o relato de um pesquisador de câncer para exemplificar essa triste situação.

Evangelos Michelakis, um pesquisador de câncer na Universidade de Alberta, descobriu no ano de 20027 que uma substância química comum e não-tóxica conhecida como DCA, abreviação de ácido dicloroacetato, que inibe o crescimento de tumores cancerígenos em ratos. As constatações iniciais de Michelakis ganharam muito alarde na época.

O mecanismo pelo qual DCA funciona em ratos é extremamente simples: ele elimina a maioria dos tipos de células cancerosas através da alteração da forma como estas metabolizam o açúcar, causando-lhes a autodestruição sem afetar os tecidos normais.
Células cancerosas geralmente usam glicólise em vez de respiração (fosforilação oxidativa) para obter energia (efeito Warburg), devido à hipoxia que existe nos tumores e também em mitocôndrias danificadas. Usualmente, células perigosamente danificadas matam a si próprias via apoptose - um mecanismo de autodestruição que envolve a mitocôndria. Mas esse mecanismo falha em células cancerosas. De acordo com a hipótese Warburg de crescimento canceroso, o câncer é causado por mudanças metabólicas nas mitocôndrias, embora agora se saiba que o câncer é causado também por mutações no genoma das células.Nesse caso o estudo revelou que o DCA restaurou a função das mitocôndrias, restaurando, portanto, a apoptose e matando as células cancerosas in vitro - reduzindo portanto os tumores nos ratos.

Após os testes em animais, Michelakis e seus colegas fizeram testes de DCA em células cancerosas humanas em uma placa de Petri, e em seguida conduziram testes clínicos em humanos, usando 1 milhão e meio dólares recebidos através de doações. Seus resultados foram encorajadores, o tratamento com DCA pareceu estender a vida de quatro dos cinco participantes, e seu estudo foi publicado no ano de 2010 na Science Translational Medicine.

O trabalho preliminar em ratos, culturas de células, e pequenos ensaios em humanos, apontam para o DCA como sendo um poderoso tratamento do câncer. Mas isso não quer dizer que seja a tão esperada cura do câncer. Muitos outros compostos que pareciam igualmente promissores nos primeiros estágios de investigação acabaram por não cumprir a promessa. Mas mesmo assim Michelakis acredita que o DCA é merecedor de uma quantidade maior de testes em humanos.
Michelakis não patenteou sua descoberta. E não porque ele não quer, mas porque ele não pode. 

Quando se trata de patentes, o DCA realmente é como o sol: é um produto químico barato, amplamente utilizado e que ninguém pode patentear. E no mundo de hoje, essas drogas não atraem financiamentos facilmente.

As empresas farmacêuticas não estão exatamente ignorando o DCA, e elas definitivamente não estão suprimindo a investigação com o DCA. É só que eles não estão ajudando. Por quê? O desenvolvimento de drogas é basicamente um negócio e investir no DCA simplesmente não é um bom negócio. "Os grandes laboratórios farmacêuticos não tem qualquer interesse em investir [na pesquisa com o DCA] porque não haverá lucro", disse Michelakis.

O farmacologista Omudhome Ogbru, um diretor de Pesquisa e Desenvolvimento em uma empresa farmacêutica sediada em New Jersey, The Medicines Company, ressaltou: "As empresas farmacêuticas são como outras empresas que fabricam produtos que devem ser vendidas com lucro, a fim de sobreviver e crescer".

Apenas um em cada 10.000 compostos estudados por pesquisadores acaba como uma droga aprovada, Ogbru explica em um artigo de opinião no MedicineNet. Para chegar à fase de aprovação, os medicamentos devem ser submetidos de 7 a 10 anos de testes a um custo total médio de 500 milhões dólares - o que pode ser em vão se a droga não receber a aprovação do FDA. E mesmo se isso ocorrer, "apenas três de cada 20 drogas aprovadas geram receitas suficientes para cobrir seus custos de desenvolvimento”.

"O lucro é o incentivo para o risco de que a empresa tem", escreveu Ogbru. "Sem a promessa de um lucro razoável, há muito pouco incentivo para qualquer empresa desenvolver novos medicamentos."Seria quase impossível ter lucro com uma droga como o ácido dicloroacetato."Se o DCA realmente provar ser eficaz, então será uma droga ridiculamente barata", disse Michelakis.
Daniel Chang, oncologista do Centro de Cancro de Stanford, e que recentemente começou a estudar o DCA, concordou: "Tenho certeza que a falta de patenteabilidade está desempenhando um papel na falta de investigação", disse Chang.

Embora as organizações de saúde do governo como o Instituto Nacional de Câncer dão bolsas de investigação para ajudar a financiar os ensaios clínicos "elas nunca seriam suficiente para obter aprovação para o DCA como um tratamento contra o câncer", disse Akban Kahn, um médico em Toronto. "Você precisa de centenas de milhões de dólares, e um subsídio do governo não é tão grande."

A pesquisa com o DCA andou muito mais lentamente do que se uma empresa farmacêutica estivesse pagando a conta. Dito isto, o financiamento de base permitiu um surpreendente progresso constante. "Através do website, de rádio, telefonemas, e outras coisas assim, foram levantados cerca de 1,5 milhões de dólares em nove meses", na Universidade de Alberta DCA Research Center, disse Michelakis. Isto foi suficiente para financiar um estudo detalhado do tratamento DCA em cinco pacientes com câncer de cérebro.

Modo de Ação do DCA




Os resultados foram promissores. O estudo, entretanto foi pequeno e não tinha um controle com placebo, o que torna impossível dizer com certeza se as condições dos pacientes que melhoraram por causa do tratamento DCA ou por outro motivo. Daniel Chang, o pesquisador de Stanford, descreveu os resultados do estudo são interessantes, mas não conclusivos. Em seu estudo, Michelakis e seus coautores escreveram: "Com o pequeno número de pacientes tratados em nosso estudo, não se pode fazer conclusões definitivas sobre DCA como uma terapia".

Apesar da escassez de testes clínicos, um médico de família, Akbar Khan, do Medicor Cancer Centre, em Toronto, prescreve DCA para seus pacientes com câncer. Ele diz que isso pode ser feito no Canadá, porque o DCA já está aprovado para o tratamento de certos tipos de distúrbios do metabolismo. Michelakis, no entanto, disse que acha que Khan não devia prescrever a droga antes que ela seja oficialmente aprovada para uso contra o câncer.

"Estamos vendo cerca de 60 a 70 por cento dos pacientes que não tiveram sucesso com tratamentos convencionais responderem favoravelmente ao DCA", disse Khan. O grupo de Khan acaba de publicar seu primeiro estudo peer-reviewed no Jornal de Medicina Paliativa. "É um relatório do caso de um paciente com uma forma rara de câncer que tinha tentado outros tratamentos sem sucesso, e então ele veio até nós para tentar o DCA. Foi eficaz, e realmente é um resultado bem dramático. Ele tinha tumores múltiplos, incluindo um particularmente preocupante na perna. O DCA estabilizou significativamente o tumor e reduziu a sua dor".

"Atualmente, temos três pacientes com cânceres incuráveis e que estão com remissão completa, e estão provavelmente curados após usar o DCA em combinação com métodos paliativos convencionais. Estamos no processo de publicação destes casos", disse ele.

No entanto, pequenos ensaios e estudos de caso não serão suficientes para provar que o DCA realmente funciona. São necessárias futuras investigações sobre a eficácia do medicamento, e sem a ajuda dos grandes laboratórios farmacêuticos, isto terá que acontecer de uma forma não usual.

"Esta poderia ser uma experiência social, onde o próprio público financiaria estes testes", disse Michelakis. "Depois de descobrir o efeito do DCA em células de câncer, eu considero isto a segunda maior realização do nosso trabalho: quando mostramos que você pode trazer uma droga para testes em humanos sem um monte de dinheiro. Se outros forem inspirados (o seu grupo está começando a estabelecer colaborações com alguns hospitais de câncer de destaque) esta poderia ser uma grande conquista. Eventualmente os órgãos federais como o Instituto Nacional de Câncer veriam que há provas suficientes, e então eles vão ajudar com o financiamento.".

"Isto representa uma nova atitude e uma nova maneira de pensar", acrescentou Michelakis. O site "The DCA Site" mostra várias histórias de sucesso no combate ao câncer utilizando o DCA.



sábado, 15 de novembro de 2014

A epidemia da doença mental




Hoje discutiremos sobre as doenças mentais e qual a influência das indústrias farmacêuticas exercem sobre elas.

Para começar o assunto precisamos entender algumas coisas específicas. Existe atualmente um manual que é utilizado desde a década de 50 por diversos profissionais, esse é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), famoso DSM. A importância desse manual é clara, pois ele contém a classificação dos transtornos mentais, de acordo com a Associação Americana de Psiquiatria e é usado em todo o mundo para decidir quem tem uma doença mental e quem não tem.

A edição mais recente edição da “bíblia da psiquiatria”, o DSM 5, é cercado de polêmicas, e uma delas veio do Instituto Nacional de Saúde Mental (NHI), um dos principais órgãos norte-americanos, que decidiu excluir de financiamentos as pesquisas que se baseiam nas categorias do guia. Especialistas como Allan Frances — professor emérito Univesidad Durham, que dirigiu a penúltima edição, o DSM IV — dizem que os critérios de diagnósticos são “frouxos” e podem sofrer pressões de setores interessados.··.

Segundo Frances o DSM 5 (2013) é muito polêmico porque abriu as portas para a irresponsável abundância de diagnósticos e de venda de remédios. Para ele uma tristeza normal se tornou “transtorno depressivo maior”; um esquecimento da idade é “transtorno neurocognitivo leve”; birras usuais do temperamento infantil se tornam “transtorno disruptivo de desregulação do humor”; exagerar na comida virou “transtorno da compulsão alimentar periódica”; uma preocupação de um sintoma médico é “transtorno de sintoma somático”; e em breve todos terão “transtorno de déficit de atenção e hiperatividade” (TDAH) e tomarão estimulantes.

Mas o principal problema é que a indústria farmacêutica vende doenças e tenta convencer indivíduos de que precisam de remédios. Eles gastam bilhões de dólares em publicidade enganosa para vender doenças psiquiátricas e empurrar medicamentos.

Nos Estados Unidos e em outros países, as indústrias farmacêuticas fazem uma propaganda marqueteira sobre as doenças mentais tanto para médicos quanto para o povo, que induz a diagnósticos precipitados e prescrição de medicamentos talvez não necessários. Estas indústrias encorajam medicar as pessoas mais por causa de eventos da vida que produzem sintomas transitórios do que pela presença de doença em si. Por exemplo, uma pessoa com estresse no trabalho e que apresenta insônia temporária, irritação, ansiedade, se olhar algumas propagandas de laboratório, achará que ela necessita do medicamento anunciado para estes sintomas, quando a solução está na busca de harmonia no trabalho, ou mudança de emprego, redução da carga de serviço, delegar tarefas, férias, etc., mas não entrar de cara no uso de um psicotrópico!



Antidepressivos e antipsicóticos são drogas bem consolidadas como estratégia terapêutica (tão bem consolidadas que juntas renderam 34,4 bilhões de dólares em vendas no ano de 2004).

Por outro lado, entre 1994 e 2013, o FDA (Food and Drug Administration)2 liberou o uso de diversos novos fármacos para tratamento de transtornos do sono vigília e relacionados ao uso de substâncias (por exemplo, Antabuse; Naltrexone para tratamento de dependência de álcool; Brupropiona no tratamento para parar de fumar; Zopiclone; Zolpidem).

Obviamente, o intuito ao se lançar medicamentos novos no mercado é com que eles sejam consumidos e de fato retornem lucro à indústria, fazendo jus ao esforço despendido em seu desenvolvimento. Um dos problemas dessa premissa capitalista é que várias pesquisas científicas publicadas para demostrar a efetividade do medicamento são questionáveis por apresentarem resultados enviesados como não serem mencionados dados negativos e metodologia questionável, por exemplo, comparações inapropriadas com medicamentos.

Neste sentido é importante nos atentarmos para os interesses velados na construção de manuais. Modificar critérios diagnósticos das doenças pode acarretar o aumento na quantidade de pessoas diagnosticadas, inclusive, diagnósticos indevidos. Consequentemente, mais medicamentos são adquiridos e os lucros da indústria aumentam.

Do ponto de vista da indústria farmacêutica, para Frances “não há melhor cliente do que uma criança. Indústrias farmacêuticas não estão interessadas em desenvolver antibióticos em pessoas que só viverão dois ou três dias, mas vão fazer todo o possível para vender drogas para as crianças, porque eles serão os consumidores ao longo da vida . " Drogas que, em muitos casos, causam mais problemas do que resolvem. "Antipsicóticos fazer as crianças desenvolver sobrepeso", diz o psiquiatra.






Para finalizar, uma possível solução para problemática seria, talvez, limitar o poder da indústria farmacêutica e observar a necessidade de exercer um controle sobre as suas práticas, visto que essa possui um poder enorme sobre os políticos e uma grande riqueza para difundir informação enganosa. Também é importante atentar para a volta da prática do raciocínio lógico e humanizado, optando por psicoterapias ao invés do uso imediato de medicamentos e, talvez o ponto mais importante, a importância de frear o marketing e a publicidade farmacêutica – como foi feito com a indústria do tabaco - começando a fazer a propaganda inversa de que “ remédio demais é prejudicial à sua saúde, e mata!”


http://portrasmidiamundial.blogspot.com.br/2014/09/a-industria-farmaceutica-esta-causando.html


http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/a-perigosa-industria-das-doencas-mentais-14276925


http://www.aleteia.org/pt/saude/artigo/imaturidade-e-transtorno-mental-5841712870064128




sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A indústria farmacêutica e as drogas me-too

Nomes parecidos, propriedades idem... Mas, nos preços, quanta diferença! Hoje iremos falar sobre as drogas me-too e como a multiplicidade das marcas comerciais de medicamentos de efeitos similares evidencia a agressividade da indústria farmacêutica.

A indústria farmacêutica lança no mercado mundial uma centena de novos produtos por ano, mas a pergunta é: realmente eles são novos? Em geral são novas drogas, só que baseadas em protótipos moleculares que conferem o mesmo efeito terapêutico no final das contas. Tomaremos como exemplo a classe dos inibidores das bombas de prótons (IBP) utilizados pros tratamentos de doenças relacionadas à hipersecreção de ácidos no estômago. Temos como protótipo o Omeprazol, que é a droga constante na Relação Nacional de Medicamentos (RENAME) do Governo Federal e distribuído pelo SUS. Porém temos no mercado várias drogas semelhantes como Esomeprazol, Pantoprazol e Lanzoprazol que nós chamamos de me-too drugs ou numa tradução direta “Drogas Eu Também”.


Os me-toos são uma estratégia de mercado das grandes indústrias de faturarem dinheiro em cima de drogas já conhecidas e que não conferem ganhos terapêuticos em relação às drogas usualmente conhecidas, pelo contrário, essas drogas são um tiro no escuro, já que por serem novas não têm seus efeitos adversos muito bem esclarecidos (Vale lembrar o caso do Vioxx® retirado do mercado em 2005 por causar danos cardíacos e neurológicos, falaremos sobre outras drogas que causaram danos em posts posteriores).
Nos EUA a Food and Drug Administration (FDA) é a responsável pelo registro de novos medicamentos. Lá basta o medicamento ter sido aprovado em um estudo de fase III sendo comparado com placebo (comprimidos de açúcar). Os estudos de fase III geralmente ocorrem numa faixa de 100 a 1000 voluntários e eles precedem os estudos de fase IV que é onde a população aumenta de forma significativa. Para poupar os custos destes estudos, os laboratórios, já de posse do registro sanitário, disseminam o uso dessa nova droga e com isso faz de cobaias os pacientes que na maioria das vezes pagam caro por esse medicamento, enquanto o protótipo muitas vezes pode ser obtido de forma gratuita através do SUS.


Os gastos da indústria são duas vezes maior com propaganda do que a pesquisa. Está comprovado que menos de 10% dos novos medicamentos que chegam ao mercado possuem avanços terapêuticos. Estes medicamentos inovadores geralmente são fruto de pesquisas feitas em universidades, sem a interferência da indústria farmacêutica. Há de se ressaltar que boa parte das novas drogas que chegam ao mercado são destinadas a patologias da vida moderna, como já foi citado outras vezes aqui (Hipertensão, Diabetes, Insônia, Hipercolesterolemia) e que há um mercado garantido pra venda destes produtos. 
Um medicamento de informação e formulado para substituir outro cuja patente tem prazo de validade em vias de expirar, tendo o medicamento de imitação (protegido por patente), qualidade igual, ou muitas vezes inferior a do medicamento imitado. Do ponto de vista da sociedade, é obviamente um desperdício o gasto de recursos com pesquisas visando medicamentos de imitação.


Nos cinco anos de 1998 a 2002, 415 novos medicamentos foram aprovados pela FDA (Food and Drug Administraction), das quais apenas 14% eram verdadeiramente novos. Outros 9% eram medicamentos antigos melhorados e aperfeiçoados significativamente, de acordo com a FDA e os restantes 77% eram incrivelmente todos remédios de imitação- classificados pela FDA como não melhores que os medicamentos já no mercado para tratar os problemas de saúde, alguns tinham composição diferente dos demais, oiros não. Mas nenhum foi considerado avanço.
Para finalizar segue abaixo alguns exemplos de drogas me-too:
- Prilosec, remédio da Astra Zeneca para azia, rendia 6 bi por ano. Patentes em vias de expirar em 2001. Nova droga, Nexium. Campanha publicitária intensa, de 1,2 bi de dólares.
- Claritin, da Shering-Plough, antialérgico. Venda de 2,7 bi de dólares. Patente extinguindo em fins de 2002. Calrinex, lançado com metabólito de Claritin.
- Talvez a família mais conhecida dos medicamentos de imitação são as estatinas, para baixar os níveis de colesterol. Original Mevacor, da Merck, 1987. Ultima Crestor, da Astra-Zeneca. Também da Merck, Zocor. Liptor da Pzizer; Pavachol da Bristol-Myers Squibb e Lescol da Novartis.

- Prozac, Eli Lily, 1987. Paxil da Glaxo- Smith- Kline em 1997. Celexa, Forest Laboratories, entre outros.

sábado, 1 de novembro de 2014

Quem dá mais? Valor: sua saúde!




Hoje abordaremos aqui no blog um tema sobre a propagandística utilizada pela indústria farmacêutica para aumentar seus lucros em detrimento do incentivo à venda e ao consumo indiscriminado de medicamentos.


É sabido que a automedicação no Brasil não é só uma realidade, é bem mais que isso, é um problema de saúde pública. Estudos da IMS Health – empresa que audita o mercado farmacêutico mundial – mostram que em 2005, o consumo nacional ocupava a 10ª colocação global. Em 2010, com um mercado avaliado em cerca de R$ 62 bilhões, o Brasil subiu três posições e atingiu a 7ª posição geral e estipulou que, em 2015, a previsão é de um mercado de R$ 110 bilhões e o Brasil deve aparecer na 6ª colocação em relação ao consumo mundial. Com esses dados, nos fica uma dúvida. Porque os brasileiros tomam tanto medicamento?


Sem dúvida, a propaganda e o marketing contribuem bastante para o aumento constante dessas vendas. A venda de medicamentos tem um aliado forte: as propagandas televisivas elas influenciam na compra, principalmente daqueles medicamentos que não precisam de receita médica. As mensagens contidas nessas propagandas sempre fazem com que as pessoas se “vejam”, se “identifiquem” com o que é veiculado, levando assim cada vez mais ao aumento do consumo, muitas vezes desnecessário ou exagerado.






A propaganda de produtos farmacêuticos teve início no século XIX por meio de anúncios dirigidos a todas as pessoas mostrando que adoecer era tão normal quanto estar sadio, incentivando a população a consumir medicamentos indiscriminadamente.

A eficácia, segurança, comodidade posológica, rapidez de ação e alta tolerabilidade são os argumentos mais utilizados na propaganda de medicamentos. Além disso, as propagandas utilizam vários recursos gráficos, superlativos e frases de impacto, mantendo o nome comercial com muito mais destaque do que o genérico, burlando, por conseguinte, inúmeras normas legais.



A ânsia pelo lucro é basicamente o preceito principal que dita o posicionamento da indústria farmacêutica em relação as propagandas indiscriminadas. Apesar do falso discurso das indústrias que dizem ter como objetivo principal conferir saúde à população ao mesmo tempo em que dispõe benefícios, sabemos que, por meio da propaganda, ela aumenta a carência de saúde, ao passo que incentiva a automedicação que pode levar o consumidor a prejuízos de saúde permanentes. Além disso, pode levar as pessoas mais frágeis a se utilizarem de medicação que causa dependência física e mental.

As indústrias farmacêuticas sabem articular bem o meio midiático em seu favor, tornando a publicidade bem atrativa, um exemplo disso foi a introdução dos “jingles” que é uma mensagem publicitária musicada e elaborada com um refrão simples a fim de ser lembrado com facilidade; e os slogans que se resume numa frase de efeito direto, utilizado pela propaganda para agregar valores à marca. Alguns jingles e slogans passam a ser tão importantes quanto suas próprias marcas. Exemplos dessa forma de publicidade são: “Pra você ficar legal, toma...”, “É gripe,...” e “Dor de cabeça? Chama...”, que ficam na memória das pessoas.

Na verdade isso é um fato que entristece, pois a propaganda de medicamento deveria ter um importante papel na educação dos profissionais de saúde, farmacêuticos e usuários, em vez de ser apenas artifício para aumentar as vendas das indústrias farmacêuticas, e o que é pior, à custa, muita vezes, da saúde da população.








Por muito tempo, a venda e propaganda de medicamentos era feita sem qualquer regulamentação ou controle por parte do Estado. Porém, com o passar do tempo e o aumento no consumo e automedicação, foram criadas normas para a veiculação de publicidade acerca de medicamentos para proteger a população, como por exemplo a Resolução RDC Nº 96, de 17 de Dezembro de 2008, que dispõe sobre a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a divulgação ou promoção comercial de medicamentos; e também a Lei 9294, de 15 de Julho de 1996, que dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4° do art. 220 da Constituição Federal. Mas, tendo em vista o crescente consumo de medicamentos e o sucesso da indústria farmacêutica, será que realmente essas normas são respeitadas? Para responder essa pergunta vamos assista o seguinte comercial: 



Para finalizar está discriminado aqui alguns itens da Resolução RDC nº96/2008:

“[…] Art. 26: Na propaganda ou publicidade de medicamentos isentos de prescrição é vedado:

III – apresentar nome, imagem e/ou voz de pessoa leiga em medicina ou farmácia, cujas características sejam facilmente reconhecidas pelo público em razão de sua celebridade, afirmando ou sugerindo que utiliza o medicamento ou recomendando o seu uso; [“…]”, porém na propaganda temos duas celebridades, Luciano Huck e Angélica, ambos extremamente conhecidos pelo público, e ainda, afirmando que usam o medicamento e recomendando seu uso.

E também, de acordo com a Lei 9294/1996, “[...] § 1° A propaganda comercial dos produtos referidos neste artigo deverá ajustar-se aos seguintes princípios: [...].

V – não empregar imperativos que induzam diretamente ao consumo; […].





FONTE: http://indfarmufabc.wordpress.com/2013/12/18/a-propaganda-e-a-influencia-no-consumo-de-medicamentos/

http://www.anvisa.gov.br/propaganda/vendendo_saude.pdf


http://www.cpgls.ucg.br/8mostra/Artigos/SAUDE%20E%20BIOLOGICAS/O%20MARKETING%20DA%20IND%C3%9ASTRIA%20FARMAC%C3%8AUTICA%20X%20SA%C3%9ADE%20DA%20POPULA%C3%87%C3%83O.pdf

sábado, 25 de outubro de 2014

A polêmica das patentes

Hoje discutiremos no blog um assunto que gera muitas polêmicas no meio das indústrias farmacêuticas a Lei de PatentesPara entender mais sobre o assunto, vamos primeiramente, definir da forma mais clara possível o que vem a ser uma patente.

A patente é um título de propriedade concedido pelo Estado ao inventor do produto ou do processo, por um tempo determinado. A patente assegura ao seu detentor o direito de exclusividade na exploração do produto.Para ser concedida, o autor do pedido da patente deve comprovar a novidade, a atividade inventiva (a obtenção do produto deve envolver processo criativo) e a aplicação industrial do produto. O período da patente de invenção vigora pelo prazo de 20 anos contados a partir da data do pedido.

Os recursos financeiros aplicados em investimentos no campo da pesquisa e desenvolvimento dos produtos farmacêuticos é uma das causas dos elevados preços de medicamentos.
 Para amenizar  os elevados gastos na produção e comercialização, as indústrias buscam patentear seus produtos, o que proporciona por um longo tempo a exploração exclusiva do processo de produção dos medicamentos.

A partir dessa prática a população de baixa renda acaba sendo afetada negativamente, pois o acesso aos medicamentos fica dificultado, principalmente quando se trata daquelas enfermidades que atingem grandes parcelas da população e que dependem de uma demanda alta de novos produtos, como é o caso da AIDS.

Outra situação criada pelas patentes é o quadro em que apenas poucas empresas que controlam o mercado de um setor específico, tornado o mercado um verdadeiro oligopólio. Sendo assim, aproveitando-se da concentração do mercado em determinado medicamento, as empresas acabam abusando  do poder que detêm  e exploram em excesso, para obter um retorno financeiro dos gastos na produção e comercialização dos medicamentos, em pequena escala de tempo, justificando-se com base nos investimentos de novos produtos mais eficazes.

Outras consequências vindas com as patentes são as estratégias na busca de descumprirem as condições legais identificadas pelos países em desenvolvimento. Como exemplo, podemos citar a perenização, processo pelo qual através de diferentes estratégias e negócios jurídicos, os detentores procuram prolongar mais que o permitido por lei, a detenção da patente. Mais conhecido por seu termo em inglês denominado Evergreening, trata-se de “um método por que os produtores da tecnologia mantêm seus produtos atualizados, com a intenção da proteção mantendo da patente por uns períodos de tempo mais longos do que seja normalmente permissível sob a lei”. (WordLingo)
Assim, a perenização em termos mais simples é um método desonesto utilizado pelos fabricantes para restringir ou impedir a concorrência dos fabricantes de genéricos equivalentes, que são mais baratos.

 Mais um aspecto polêmico em relação as  patentes a ser considerado é o que se chama de Exceção Bolar é processo um permitido pela legislação brasileira, pela Lei nº 9.279, em seu artigo 43. Denis Barbosa (3003, p.483) chama as exceções trazidas pelo art. 43 da Lei nº. 9.279 de “limites ao exercício dos direitos exclusivos”, esse processo permite que terceiros, que não tem titularidade da patente de certo medicamento, utilize de dados de um produto patenteado para realizar testes para obter o registro sanitário de um medicamento. Através desse mecanismo, não se torna obrigatório o aguardo e expiração da patente para iniciar as pesquisas e registros de outros medicamentos.  

Outra consequência das patentes de medicamentos é o que se denomina  importação paralela, que ocorre quando determinado mercado (A), compra um medicamento protegido por patente, no país (B), onde neste o produto é mais barato, que importa para o país (C), onde o mesmo produto é comercializado a um preço mais elevado. Porém, para que tudo isso ocorra, depende de regras de exaustão de direitos adotado por determinado país. O direito de importação paralela pode ser sustentado, a partir de outro dispositivo, da própria lei 9.279, em seus § 3º e 4§ do artigo 68, que trazem em seu contexto a licença compulsória.

A proposta da licença compulsória é a facilidade de seu uso “sem autorização do titular”. A licença compulsória é um instrumento pelo qual, o Estado de modo intervencionista, busca corrigir o exercício abusivo dos direitos de patentes, através da autorização a terceiros do seu uso, sem a prévia liberação de seu titular, buscando reparar a falha de mercado e à política pública que pretende servir, ou seja, ocorre quando o titular da patente exercer de forma abusiva os seus direitos ou pratica abuso do poder econômico o qual tem como penalidade a licença compulsória.

Para que haja um equilíbrio desses interesses, é necessária a intervenção do Estado como principal agente de transformação social, que deve oferecer a sua população uma melhor política de saúde que permita acesso aos medicamentos essenciais.

Para finalizar vamos fazer uma pequena explanação sobre o que consistem as patentes de segundo uso e uma de suas principais consequências, que afetam diretamente a população. Patentes de segundo uso são caracterizadas quando os pesquisadores descobrem que um determinado medicamento desenvolvido para um fim específico pode servir para tratamento de outra doença. A Lei 9.279/96 (Lei de Patentes) regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, documento também define que só pode ser considerada patente uma medicação nova, mas não há proibição especifica à patente de segundo uso.

Em entrevista para a revista eletrônica Acesso Brasil – Mercado e Políticas Públicas para medicamentos, o deputado federal, Dr. Rosinha, condenou as patente de segundo uso no Brasil, que encarece os preços dos medicamentos, provoca perdas ao Tesouro da União e gera encargos à saúde pública. Para o deputado a patente de segundo uso impede a produção de medicamentos genéricos, que por lei devem ser 30% mais baratos, ao passo que estende indevidamente o monopólio de uma patente anterior. Segundo ele, essa prática traz enormes prejuízos para a população e para os órgãos públicos federais, estaduais e municipais responsáveis pela distribuição gratuita desses remédios. Além disso, há prejuízo para as demais empresas que aguardavam o fim da vigência da patente para entrar no mercado de genéricos daquele medicamento. Isso tudo em detrimento da saúde pública e das leis de concorrência. Na opinião do deputado Dr. Rosinha, o melhor caminho para acabar com o abuso na concessão de patentes seja passar a responsabilizar os dirigentes e funcionários do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) com seu patrimônio pessoal, pelos enormes prejuízos econômicos causados ao país. Quanto aos prejuízos à saúde pública, esses são incomensuráveis e irreparáveis.

FONTE: http://jus.com.br/artigos/12303/patenteabilidade-do-segundo-uso-medico
http://www.fenafar.org.br/portal/patentes/71-patentes/361-patentes-de-segundo-uso-causa-danos-a-saude-publica-e-ao-brasil.html
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11189

sábado, 18 de outubro de 2014

Os invisíveis para a indústria farmacêutica

Elas são pouco comentadas ao redor do mundo, apesar de serem conhecidas há muito tempo. Elas causam um enorme sofrimento, mas passam quase que por invisíveis, tanto por se encontrarem presentes nos ambientes pobres das áreas rurais e favelas urbanas, quanto por afetarem populações consideradas irrelevantes – afetando profundamente física, sócio e economicamente a vida de mais de um bilhão de pessoas e, clamando entre essas, mais de meio milhão todos os anos.
Por todas essas razões, elas foram classificadas como Doenças Tropicais Negligenciadas, ou apenas doenças negligenciadas. Existem 17 delas, com suas transmissões variando de bactérias, parasitas e infecções virais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), são 149 países e territórios onde elas são endêmicas. Algumas das doenças são transmitidas tanto por vetores (insetos), como a doença de Chagas, a malária, leishmaniose e a dengue, quanto de pessoa para pessoa, como tuberculose e hanseníase .E é exatamente pelo fato de que os impactos dessas doenças, que afetam tantas pessoas e, ainda assim continuam tão ignoradas, que dá essas doenças – e seus pacientes – o status de “negligenciadas”; termo originalmente proposto na década de 1970 por um programa da Fundação Rockefeller como “The great neglected diseases”. Segundo Lúcia Brum, médica brasileira e consultora em doenças emergentes pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF) no escritório do Rio de Janeiro, a principal razão para isso é a falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento de drogas que poderiam melhorar a situações dos afetados: “As companhias farmacêuticas trabalham segundo a lógica de mercado, não pelos critérios da necessidade da população.”
Lógica de mercado. Essa, de fato, parece competir contra as próprias doenças, pelo posto de grande “inimigo” das populações pobres que sofrem com as doenças negligenciadas. Uma amostra sobre a “lógica de mercado” das companhias farmacêuticas pôde ser observado recentemente com a fala do executivo chefe da Bayer, Marijn Dekkers: “Nós não desenvolvemos este produto para o mercado indiano, sejamos honestos. Nós desenvolvemos este produto para os pacientes do Ocidente que podem pagar por ele”. O produto no caso era o Nexavar, para o tratamento de câncer avançado do rim e do fígado. 
São consideradas “doenças negligenciadas” as enfermidades caracterizadas por incidirem (principalmente) em regiões tropicais, por serem mortais ou muito graves e afetarem um país ou região de maneira endêmica, e pelo fato das opções para o seu tratamento não existirem, serem inadequadas (podendo inclusive ser tóxicas) ou ultrapassadas e com pouca eficácia. Em geral estas enfermidades não recebem atenção dos grandes laboratórios farmacêuticos no que se refere à pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos, porque estão presentes e vitimam as populações das regiões mais pobres do planeta e dessa maneira se tornam um grande problema na área da saúde pública desses lugares. 

O problema representado pelas doenças negligenciadas se tornou mais evidente nos últimos 40 anos, com o grande avanço e desenvolvimento tecnológico, o que gerou um grande conhecimento acumulado na área da medicina, mas deixou várias populações à margem de seus feitos, sofrendo com enfermidades que não recebem quase investimento por parte da indústria farmacêutica no tocante às questões de pesquisa e desenvolvimento de novas drogas. De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto George para a Saúde Internacional com apoio da Fundação Bill & Melinda Gates que analisou e quantificou os investimentos em inovação e pesquisas para o combate às doenças negligenciadas, usando dados referentes ao ano de 2007, apenas 9% dos recursos globais para pesquisa e desenvolvimento na área de doenças negligenciadas foram providos pela indústria farmacêutica privada, quase todo o investimento nessa área vem de instituições filantrópicas e sem fins lucrativos (21,5%), e de instituições governamentais e públicas (69,5%) que não conseguem, na maioria das vezes, manterem esses investimentos ao longo dos anos.



Ainda que exista um grande volume de pesquisa para a produção de medicamentos que combatam essas doenças negligenciadas, a grande maioria é feita em universidades e institutos públicos, e isso não garante a produção de novas drogas porque nos últimos anos o setor privado detêm os métodos mais eficientes e condição financeira para fazer a pesquisa clínica e os testes com as substâncias elencadas que darão origem ao novo medicamento.

Muitos autores que trabalham com o tema da saúde pública e o problema das doenças negligenciadas alegam que um fator que agrava essa situação é o regime de patentes (falaremos posteriormente sobre leis de patente) estabelecido internacionalmente desde o final do século XIX, e que atualmente é regulamentado (mundialmente) pelo Acordo TRIPS, que proporciona grandes vantagens econômicas para os laboratórios que produzem medicamentos protegidos por essa legislação, e estes preferem investir em medicamentos para doenças presentes nos países onde as pessoas têm condições de pagar por eles, pois para as populações de regiões e nações pobres a maioria das pessoas não tem condições de comprá-los e assim os possíveis medicamentos que fossem produzidos poderiam ser alvo das flexibilidades contidas no regime de patentes, como a licença compulsória, pelas quais um país consegue uma licença para produzir uma versão genérica do medicamento para distribuir à população sem condições próprias de comprá-lo.

Além desse aspecto, a regra de patentes influencia e dificulta a resolução de outros problemas presentes no âmbito da saúde pública e um exemplo disso é que desde 1999 a organização humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF), reconhecida internacionalmente por levar assistência médica às regiões mais pobres do planeta, desenvolve uma iniciativa intitulada “Campanha de acesso a medicamentos essenciais”, surgida da necessidade encontrada por essa entidade no seu trabalho cotidiano em países pobres, sobretudo na África.

Com frequência a MSF encontra dificuldade em tratar de seus pacientes por causa dos altos custos dos remédios. Esta mesma realidade também prejudica diversos países pobres ou em desenvolvimento quando se trata de seus programas nacionais de distribuição de medicamentos que envolvem drogas protegidas por patentes e com alto preço, como os medicamentos usados no tratamento da AIDS, que apesar de não ser considerada uma doença negligenciada, representa um grande problema na área de saúde pública de muitos países pobres (principalmente os situados no continente africano), por vitimar grande parte da população (MSF, 2005).

Após a completa implementação do acordo TRIPS em janeiro de 2005 pela Índia e pelos poucos outros países em desenvolvimento que ainda não concediam patentes farmacêuticas, o acesso a novos medicamentos com preços acessíveis tornou-se ainda mais difícil, uma vez que todos os novos medicamentos estão sujeitos a 20 anos de proteção patentearia em todos os países, com exceção dos extremamente pobres e daqueles que não são membros da OMC (Organização Mundial do Comércio). Com isso, muitos países pobres ou em desenvolvimento veem agravados os seus problemas na área da saúde, devido à falta de fármacos específicos para as doenças negligenciadas e com a dificuldade de acesso aos medicamentos que tratam das doenças em geral. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um terço da população mundial não tem acesso regular a medicamentos essenciais, sendo que em partes da África e da Índia, 50% da população carece de acesso aos medicamentos essenciais mais básicos, que são aqueles utilizados no tratamento de enfermidades que atingem o mundo em geral, mas que se tornam inacessíveis para sua sociedade, devido ao seu preço porque a população não tem possibilidade financeira própria de adquiri-los e os governos não têm condição financeira de manter um programa público de compra e distribuição.

Considerando esse cenário, foi criada a iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, sigla em inglês). Quando a MSF foi laureada com o Prêmio Nobel da Paz, em 1999, ela destinou os recursos recebidos para o desenvolvimento de um modelo alternativo de P&D de novos medicamentos para tratar as doenças negligenciadas, o DNDi.

Arquitetada para reduzir os custos nesse desenvolvimento e garantir o acesso aos pacientes, o DNDi funciona como uma coalizão de sete instituições de diferentes países:  a Fundação Oswaldo Cruz do Brasil, o Conselho Indiano de Pesquisa Médica da Índia, o Instituto de Pesquisas Médicas do Quênia, o Ministério da Saúde da Malásia, Instituto Pasteur da França e a organização internacional dedicada à pesquisa – o Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais (TDR), além da própria MSF. Ela está sediada em Genebra, no entanto, a organização também está presente com escritórios regionais em quatro países que podem ser considerados como estando na linha de frente no combate às doenças negligenciadas: Quênia, Malásia, Índia e Brasil. Por sinal, estes dois últimos são aqueles que têm mais a contribuir com a melhora no quadro.

O principal objetivo da organização é fornecer de seis a oito novos tratamentos que atendam às necessidades dos pacientes. Como objetivo secundário, a DNDi se esforça para utilizar e fortalecer a capacidade de pesquisa existente nos países endêmicos, bem como conscientizar a opinião pública e despertar maior responsabilidade dos governos sobre a necessidade de desenvolver novos tratamentos para as doenças negligenciadas.

Para finalizar, é importante ressaltar que a negligência em relação a estas doenças é estimulada pela lógica do mercado que direciona as estratégias de investimentos destas indústrias farmacêuticas. Como consequência, as populações situadas nas regiões mais pobres do planeta não possuem meios para combater os males que afligem sua saúde, por não representarem um mercado atraente (por causa do seu baixo poder aquisitivo) para as perspectivas de lucro desse setor.

FONTE: http://portal.fclar.unesp.br/possoc/teses/Jose_Flavio_Castro.pdf
              http://www.finep.gov.br/imprensa/revista/edicao6/inovacao_em_pauta_6_doencas_negl.pdf
              

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Verdades incnovenientes sobre as indústrias farmacêuticas



Como qualquer outro setor da economia, a indústria farmacêutica visa o lucro. Nada de errado com isso, e tem dado certo: em 2008, ela movimentou US$ 725 bilhões - o Brasil faturou US$ 12 bilhões. Só a fabricação da aspirina movimenta US$ 700 bilhões por ano. Seu princípio ativo, o ácido acetilsalicílico, é considerado um dos produtos mais bem-sucedidos da história do capitalismo. 

Para que isso seja possível, é preciso saber vender. "A indústria farmacêutica é tudo, menos uma instituição filantrópica", diz Fernando Italiani, autor do livro Marketing Farmacêutico. Fernando já foi gerente de marketing de laboratórios e hoje dá cursos de vendas e planejamento estratégico para funcionários de laboratórios e farmácias. 

Um dos tópicos-chave de suas aulas é a fidelização dos médicos. Para Fernando, aquela tática clássica de dar brindes, viagens e inscrições em congressos já está ultrapassada. "Os médicos estão mal-acostumados. Isso já não diferencia nenhum laboratório", afirma. Fernando propõe investir em educação. "Muitos médicos não têm formação em gestão nem em finanças. Fornecer esse conhecimento é ouro. Quando eu percebi que uma viagem para a Costa do Sauípe não tinha dado certo, fiz eventos focando o conhecimento técnico. Gastei 1/3 do valor e tive o dobro do retorno." É o que Fernando chama de marketing "sustentável": mais difícil de ser copiado e com resultado garantido e prolongado. 

Os produtos da indústria farmacêutica são especialmente difíceis e caros de ser fabricados. Até um remédio chegar à farmácia, são consumidos cerca de 15 anos com pesquisa e um investimento quase 3 vezes maior que a média da indústria, segundo estudo publicado na revista Nature em 2005. É o que se chama de negócio de alto risco: de 10 mil compostos que entram para ser pesquisados, apenas um é comercializado. 

Para não perder mercado, os grandes fabricantes de remédios passaram a produzir também os seus genéricos. Assim, saem na frente dos concorrentes e economizam na hora de promover seu produto. Lembra do homem da maleta? Ele aproveita a visita ao médico para falar também dos genéricos da sua empresa. "Nós fazemos um trabalho de fortalecimento da marca que não foca no medicamento especificamente, mas na instituição. Investimos na exposição da marca, para que ela fique na cabeça do médico", diz Telma Salles, diretora de relações externas do laboratório EMS. 

Para ter uma ideia, de 30 a 40% de tudo o que se ganha com a venda de remédios é reinvestido em ações de marketing, a maioria destinada à classe médica. Além de conquistar a simpatia dos doutores, os representantes procuram identificar os formadores de opinião e convidá-los para dar palestras aos seus colegas falando sobre a eficácia de um novo produto. 

Em 2007, o jornal The New York Times publicou um depoimento do médico Daniel Carlat contando sua experiência como garoto-propaganda de um laboratório. No ano de 2001, Carlat, psiquiatra e professor da Universidade de Boston, recebeu uma proposta da Wyeth, uma das 10 maiores indústrias farmacêuticas do mundo: discutir com médicos de sua cidade o efeito do Effexor XR, um novo antidepressivo da companhia. Ele ganharia US$ 750 por apresentação. Carlat já havia prescrito o remédio para alguns pacientes e sua avaliação era de que ele funcionava igual a outros da mesma categoria.

Decidiu aceitar a proposta e viajou - tudo pago - para um encontro de treinamento em Nova York. No hotel, recebeu um folder do encontro, convites para vários jantares e dois ingressos para um musical da Broadway. Ao voltar para Boston, apresentou o remédio durante um ano para médicos em clínicas e hospitais· 

Durante esse período, Carlat aumentou em mais de 20% sua renda anual. Sentia-se muito à vontade para defender o Effexor, até que teve acesso a dados de pesquisas que mostravam uma incidência comparativamente alta de hipertensão em pessoas tratadas com a droga. Foi quando ele parou para pensar: quantos pacientes haviam sido prejudicados por sua causa?



Os conselhos de medicina acreditam que esse drama de consciência pode ser evitado se o médico manifestar o conflito de interesse antes de cada apresentação. Em outras palavras, avisar à plateia se ele ou o estudo é financiado por algum laboratório. "Isso é fundamental para uma interpretação crítica de qualquer estudo", afirma Reynaldo Ayer, da Comissão de Ética do Conselho Regional de Medicina de São Paulo. Só não está determinado o que fazer em relação ao paciente. Você já foi informado por algum médico de que ele recebe para divulgar entre colegas o remédio que está receitando para você? Ou que recebeu uma viagem de presente do fabricante? E, se fosse, continuaria acreditando nele?

Conflitos desse tipo estão presentes também entre pesquisadores, que podem ganhar centenas de milhares de dólares por ano para conduzir estudos e prestar consultoria para a indústria. Revistas e jornais científicos procuram garantir sua credibilidade acrescentando no início do estudo o nome do laboratório patrocinador, mas entendem que não dá para prescindir da grana dos laboratórios em um processo de pesquisa. "Eles são uma fonte de recursos indispensável", diz Florentino Cardoso, da Associação Médica Brasileira. Até aí, tudo bem. Só não vale omitir dados importantes, como os efeitos colaterais de um princípio ativo, para favorecer o lançamento de um produto. Foi o que aconteceu no caso do antidepressivo Paxil. Em 2004, a Glaxo Smith Kline foi processada nos EUA por não publicar informações que demonstravam que o remédio aumentava a ocorrência de pensamentos suicidas em pacientes com menos de 18 anos. Os fabricantes sabiam disso desde 1998. 

Tanto esforço destinado aos médicos tem uma explicação muito simples: a maior parte dos remédios não pode ser anunciada diretamente a você. No Brasil, a propaganda de medicamentos possui uma legislação mais rigorosa que a de outros produtos. Só os medicamentos de venda livre, como analgésicos e ácidos para indigestão, podem ser comercializados sem prescrição médica e anunciados ao consumidor. Esses remédios são responsáveis por cerca de 30% do faturamento da indústria no Brasil. Os outros 70% vêm dos "medicamentos éticos", aqueles com a advertência "Venda sob prescrição médica" e que só podem ser anunciados para os médicos. 

Para o público leigo, os laboratórios usavam estratégias menos diretas, como investir na campanha sobre uma determinada doença para aumentar a demanda por medicamentos (campanhas sobre impotência, depressão, obesidade ou diabete), mas esse tipo de propaganda foi proibida pela Anvisa no ano passado. Resta usar as técnicas de marketing para tornar a imagem de um remédio mais atraente. Como aconteceu com o Prozac nos anos 80. A pílula trazia um novo princípio ativo para o combate da depressão, é verdade. Mas essa não é a única explicação do seu sucesso: depois de contratar uma agência de imagem, o laboratório Eli Lilly decidiu dar um nome de fantasia ao produto - algo sonoro, que caísse bem em qualquer língua. Parece bobagem, mas até então a maior parte dos medicamentos tinha nomes derivados dos princípios ativos, difíceis de memorizar e associados a efeitos colaterais. A chegada de Prozac transformou o batizado de um remédio em um estudo complexo: Viagra, por exemplo, é composto de "Vi", de vitalidade, e "agara", de Niagara falls, que remete a força descomunal, volume de águas incontrolável e ininterrupto, características desejadas por pacientes com disfunção erétil. 

Some ao marketing o aumento do acesso ao sistema de saúde e o resultado é claro: a gente nunca tomou tanto remédio. E isso é bom. "As vacinas e os medicamentos são os principais responsáveis pelo prolongamento da nossa vida", diz Anthony Wong. Mas também há outra notícia: a gente nunca tomou tanto remédio sem precisar. A OMS estima que metade do consumo mundial é feito de forma irracional, ou seja, em dose, tempo ou custo maior que o necessário. Na lista das possíveis causas estão incluídas políticas de preços e atividades promocionais irregulares e falta de informação e educação sobre o uso correto de medicamentos. 

É injusto, porém, colocar a culpa só nos laboratórios. "O aumento no consumo de medicamentos é um problema sociológico. Hoje, as pessoas buscam soluções imediatas para tudo, tendo como objetivo a felicidade", diz Wong. "E não há nada mais imediato do que um remédio." 

Misturando tantos fatores de risco, uma dor de cabeça vira uma enxaqueca das bravas, bem difícil de tratar. Mas algumas iniciativas têm sido tomadas para melhorar esse prognóstico. Uma delas é a participação ativa das empresas na revisão do código que regulamenta a publicidade do setor, ao lado da Anvisa e dos Conselhos de Medicina e de Farmácia. Outra é o aumento do número de laboratórios envolvidos em ações sustentáveis e em campanhas preventivas. É um comprimidinho da receita. Pra engolir os outros é preciso uma dose de prudência e bom senso. Ou você pode se intoxicar.

-338 multas foram aplicadas pela Anvisa em 2007 como punição a propagandas ilegais de medicamentos.

-0,06 do montante investido em marketing pelas indústrias farmacêuticas em 2006 seria suficiente para pagar a punição.